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sábado, junho 7, 2025

Novo retrato de Trump é exemplo de estética que presidente criou

Quarto retrato oficial desde 2017, imagem tem tom sombrio e intimidador, e parece feita por inteligência artificial

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O presidente Donald Trump tem um novo retrato fotográfico oficial —o quarto desde 2017, dois produzidos durante transições de governo e dois nos primeiros meses de seus mandatos não consecutivos. Percorremos um longo caminho desde o retrato de George Washington pintado por Lansdowne, no qual o general da Virgínia aparece em pé diante de sua mesa com a rigidez republicana.

A nova imagem oficial, tirada pelo fotógrafo do governo Daniel Torok, apresenta o presidente em um close-up apertado e em um ambiente obscuro. A iluminação é excessiva, o tom é intimidador, mas, em comparação com o último, o humor do sujeito realmente melhorou.

Para o retrato anterior, divulgado na época da transição presidencial em janeiro de 2025, Torok usou um holofote exagerado vindo de baixo, que deu a Trump a aparência de um vilão de filme de terror. O ex-presidente, agora presidente reeleito, olhava com cara feia e semicerrava os olhos, imitando claramente sua foto tirada na prisão do condado de Fulton, em Atlanta.

O novo retrato, por outro lado, exibe uma incongruência tonal clássica de Trump; apesar de toda a escuridão, observe o humor. A iluminação é mais direta. Os ombros de Trump estão relaxados, sua expressão suavizou. Sua expressão neutra é moderada por um leve calor nos olhos —uma pose clássica que a geração mais jovem, seguindo a supermodelo Tyra Banks, sabe chamar de “sorrir com os olhos”.

O que torna o retrato desconfortável é menos a pose do que a composição; a lente está muito mais próxima do sujeito do que nos retratos presidenciais oficiais anteriores, e o recorte é extremo. Na fotografia oficial tirada para o primeiro mandato de Trump, ele aparecia ligeiramente descentrado, sorrindo, com bastante espaço acima da cabeça, ocupando pouco menos da metade da área horizontal da foto. Os retratos fotográficos de Joe Biden, Barack Obama e George W. Bush foram compostos de forma semelhante.

Novo retrato de Trump é exemplo de estética que presidente criou
O presidente Trump tem um novo retrato fotográfico oficial (superior, à esquerda), o quarto desde 2017 – The New York Times

Agora, Trump está bem no centro, ocupando bons três quartos do quadro, e a lente está posicionada um pouco abaixo e perto demais para ser confortável. Isso lembra um daqueles momentos existenciais terríveis em que você abre o aplicativo da câmera no seu celular e a lente frontal é ativada; lá está você, grande demais, abatido demais. Para o novo retrato, Trump parece ter consentido em deixar visíveis as olheiras que o retrato de transição iluminado por baixo eliminou, seja por meio de maquiagem ou Photoshop.

O cenário é simples, tão sombrio e teatral quanto a sala de reuniões de “O Aprendiz”, sem o pórtico da Casa Branca ou as molduras douradas que apareciam no fundo das fotos oficiais anteriores. Os únicos símbolos presentes são os que estão na pessoa do presidente. A bandeira americana, tradicionalmente atrás do presidente, pode ser vista no broche na lapela esquerda de seu paletó. A tradicional gravata vermelha (no primeiro mandato ele usava azul) foi amarrada com um nó Windsor grosso, e a seda brilha como uma zircônia cúbica.

Quando chegou ao poder em janeiro de 2017, Trump parecia um outsider. Uma ostentação brilhante, herdada dos tabloides nova-iorquinos dos anos 80 e dos reality shows dos anos 2000, o marcou como visualmente distante não apenas da antiga elite política de Washington, mas também da iconografia da América Central, da família nuclear e da cerca branca, que ainda moldavam o conservadorismo americano.

Ano após ano, porém, o gosto do presidente tornou-se o gosto do público. O brilho crepuscular do retrato rima com os cenários das últimas convenções nacionais republicanas, com ouro e preto substituindo o vermelho, branco e azul, e dá continuidade a uma estética de brilho obsidiano que remonta à Trump Tower, o arranha-céu escuro e dominador que se ergue sobre a Quinta Avenida desde 1983 como um frasco gigante de Drakkar Noir.

Em 2025, a estética trumpiana já se propagou muito além da política, chegando ao mundo da tecnologia e à indústria do esporte, aos restaurantes e à vida noturna, aos influenciadores que vendem criptomoedas e vídeos verticais de suplementos fitness. Visualmente, estilisticamente, Trump não mudou —mas nós mudamos, e sempre acreditei que os oponentes políticos que zombavam ou rejeitavam o apelo estético do presidente o faziam por sua própria conta e risco. Ao desafiar os gostos das elites tradicionais, mostrando indiferença às expectativas visuais dos outros, há uma curiosa imagem de força.

O mais interessante no novo retrato é a obscuridade das bordas, o foco suave de Gloria Swanson. Trump inclinou a cabeça ligeiramente para a frente, e a iluminação nítida em seu rosto contrasta com as bochechas e ombros fortemente desfocados. O broche da bandeira está embaçado, sem estrelas visíveis, e a camisa e gravata azul-claras parecem mais renderizadas por computador do que derivadas da lente.

Independentemente das técnicas utilizadas para produzi-la, a fotografia apresenta várias características típicas das imagens geradas por inteligência artificial: composição simétrica, detalhes imprecisos, bordas desfocadas e profundidade de campo reduzida. Se as características estéticas do primeiro mandato de Trump vieram da televisão, este segundo governo tirou suas imagens mais do Vale do Silício —até mesmo os canais oficiais de comunicação da Casa Branca apresentaram o presidente com a batina branca e a mitra do papa e transformaram migrantes algemados e chorando em personagens de anime.

Entre Washington e São Francisco surgiu um regime tecnocultural de criação de imagens, do qual Trump é um mestre técnico consciente e inconsciente. O retrato, dessa forma, é menos um retorno ao brilho dos anos 1980 do que um reflexo da superprodução dos anos 2020: um artefato de um irável mundo novo onde as imagens podem sempre ser regeneradas e até mesmo a Presidência não tem história alguma.

Jason Farago/Crítico do New York Times

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