Com todo respeito à memória do meu último sogro, Manoel Soares Torquato – o “Mané eletricista” da Vila Maxwell – e de tantos outros “Manés” que, com dignidade e suor, deixaram sua marca na história regional, como o avô da colega jornalista Dalva Gonçalves, o repentista Manoel Lourenço, fundador da Banda Lira Douradense nos anos 1960, permito-me usar o termo em sua versão mais pop e zombeteira: Perdeu, Mané!
O bordão, que viralizou com a queda do bolsonarismo em praça pública, voltou com força neste fim de semana graças a uma postagem precisa do arquiteto e pensador das esquinas sul-mato-grossenses, Ângelo Arruda. E a lembrança foi cirúrgica: o tempo gira – porque a Terra, vejam só, é redonda! – e com ele vieram as voltas da Justiça, agora sem panos quentes ou fardas protetoras.
O arquiteto que reconstruiu o colégio Presidente Vargas sem que a mais tradicional escola de Dourados perdesse sua feição original — em respeito não apenas a estudantes ilustres que dali saíram como o deputado Geraldo Resende e o Procurador de Justiça do MS, Silasnewton Gonçalves, mas principalmente ao professor Celso Amaral, seu eterno diretor — é o responsável também pela sustentação da tese de que o terraplanismo é a mais utópica das bestialidades do gado bolsonarista.

Ângelo resgatou uma cena grotesca da deputada Carla Zambelli, ainda em 2015, invadindo a UFMS com o celular em punho, querendo filmar “vagabundos” nos corredores. Um ano antes da ascensão do “mito”, ela já surfava na maré da ignorância, cuspindo contra tudo que lembrasse pensamento crítico, ciência ou liberdade. Na mesma trilha, Joyce Hasselmann, a ex-foguete do conservadorismo fake, também fazia plantão em universidade para denunciar… estudantes estudando.
“O tempo ou. A Terra deu um capote e essa semana ela (Zambelli) pegou 10 anos de cana”, escreveu Ângelo. E completou com um tapa de luva de pelica: “Agora ela está cheia de medo das prisioneiras. Porque zoou muito essas mulheres.” O gado, que antes mugia convicto da chegada do novo messias, agora assiste calado (ou espumando no zap) à crônica de uma cadeia anunciada.
Sim, cadeia. Não aquela metáfora da opressão ideológica que os bolsonaristas adoram usar quando são cobrados por seus crimes. Cadeia de verdade. Com grade, cela, feijão azedo e apelido novo. E que não digam que não foram avisados.
Enquanto isso, no curral pantaneiro, o rebanho bolsonarista ainda resiste. Em Mato Grosso do Sul, o Gordinho queridinho do Bolsonaro – o deputado federal Rodolfo Nogueira – segue firme em sua jornada de bajulação ao mito. Ao seu lado, a vice-prefeita de Dourados, Gianni Nogueira, “sósia” oficial da Michelle segundo o próprio ex-presidente, segue abençoando discursos com palmas e améns.
Mas o barranco está logo ali. E já começa a desmoronar.
Bolsonaro, o patrono das fake news, das rachadinhas e do negacionismo homicida, sente o cerco apertar. Joyce pulou fora a tempo. Zambelli, não. E agora chora no Twitter, tentando uma vaguinha ao lado do “patrão”, que já está mais para laranja podre do que para líder messiânico.
O arquiteto Ângelo encerra sua postagem com um deboche certeiro: “Perdeu, Mané!”
E eu acrescento: perdeu mesmo. A chance de estar do lado certo da história, a oportunidade de fazer política com dignidade, a coragem de pensar com a própria cabeça – não com o coturno.
À beira do cadafalso, resta ao rebanho bolsonarista encarar a curvatura da Terra e a rotação da Justiça. Porque se tem algo que gira é o mundo. E são seus giros perfeitos que estão fazendo um limpa.