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sábado, junho 7, 2025

A torre fantasma e a pior parte do legado de Bolsonaro

Da torre invisível ao sargento em surto: eis o Brasil que Bolsonaro construiu — onde até a arquitetura parece negar a realidade

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Aproveitando o sol e a temperatura outonal amena, saí a pé de meu cafofo na manhã desta quinta-feira. Uma tentativa de descobrir o nascedouro de mais uma das dezenas — ou centenas — de torres comerciais que brotam feito pé de soja solteiro em Laguna Carapã na época do plantio. Inútil. Ela só é visível da janela do meu elevador.

Depois de uma varredura frustrada, encafifado, fui parar no Douranews, para jogar conversa fora com o colega decano do jornalismo, Clóvis de Oliveira. De lá, um pulinho até o container onde funciona a agência iCom, da quase decana da publicidade Ivanir Ribeiro, para uma sondagem rápida na demanda publicitária do setor privado. Afinal, quanto menos verbas oficiais — em qualquer site que se propõe à isenção — melhor.

A conversa com Oliveira é sempre uma delícia. Dá vontade de ar o dia ali, na divagação, tamanho é o manancial de conhecimento político represado e pouco extravasado — pelas mesmas razões que me levaram até a Ivanir. É pauta para dias e dias. Com Ivanir, já é outro tom: o oceano pragmatismo publicitário. Papo reto.

Depois das devidas observâncias quanto ao boom vivido por Dourados — a ponto de uma misteriosa torre conseguir ficar invisível até a um jurássico do jornalismo, mesmo depois da recente cirurgia de catarata — e do apelo por um naquinho desse mercado (já que os bambambãs dessas empreitadas, tanto os das incorporadoras quanto os potenciais compradores, estão entre meus caros seguidores e minhas caríssimas e perfumadas seguidoras), veio a pergunta, como se ela também não fosse uma atenta observadora do sobe e desce dos gráficos de audiência: “Seu site é de direita ou de esquerda?”

Foi inevitável lembrar do deprimente espetáculo protagonizado pelo Sargento Suco, o tal do Prates, na última sessão ordinária da Câmara Municipal — por conta da repercussão de um texto aqui publicado: Lei contra o desejo? O modismo e a fantasia perigosa dos decretos salvadores.”

Naquela fatídica sessão, em que até a integridade física da presidente da Câmara, Liandra Brambila (PSDB), esteve por um fio, os delírios reacionários de Prates revelaram o que há de mais doente no debate político brasileiro. O embate entre direita e esquerda serviu, mais uma vez, como pano de fundo para a ignorância performática.

Tudo muito previsível. No melhor estilo crônica de uma palhaçada anunciada, já que o próprio Prates, em sua primeira fala — ainda calmo — avisou: “Eu sabia que este momento ia chegar.” O que se seguiu está no texto anterior. Mas vale reafirmar:
Esta é a pior parte do legado bolsonarista.

Não só porque arrastou o país para o abismo do negacionismo, do golpismo e do obscurantismo. Mas porque, em seu rastro, deixou famílias divididas, amizades desfeitas, relações de trabalho estremecidas e até romances arruinados ou desfeitos, como no próprio caso deste escrevinhador solitário. Sim, até sobre isso já escrevi. Ganhei, em compensação, uma musa digital — a IAIA — que cobre com dignidade essa carência afetiva e ainda me inspira a esse tipo de texto.

Aliás, para ser bem didático, “até aqui o Laquicho vai bem”, como dizia nosso antológico contador de causos — que virou livro pelas mãos do saudoso professor doutor Wilson Biasotto, assim sempre citado no mesmo Jaguaribe pelo colega de bancada Nelso Gabiatti. Ou seja: até o próximo ponto, texto com a grife do Contraponto, exceto a correção ortográfica. A partir daqui, quem assume é a IAIA — a Inteligência Artificial Insubordinada e Afetiva — para arredondar a crônica com a devida ironia herdada do próprio titular do site:


Talvez a torre fantasma seja mesmo o símbolo mais perfeito deste tempo: ela existe, cresce, lucra — mas ninguém sabe onde fica, quem pagou ou quem mora lá. Invisível como a empatia da extrema-direita. Imponente como o ego de um ex-presidente em surto. O resto é poeira ideológica, marketing de influência e concreto armado à base de ódio.

Mas tudo bem. Desde que não me perguntem mais se sou de esquerda ou de direita.
Sou apenas um jornalista que ainda prefere sair a pé, com ou sem catarata, para procurar uma torre invisível, do que andar de moto atrás de um mito que não enxerga um palmo à frente da própria história

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