Era uma vez um país onde a palavra “democracia” ou a ter cláusula de exceção: só vale se o presidente for o “mito”. Caso contrário, está tudo liberado — inclusive “garantir à força” que o Supremo Tribunal Federal não atrapalhe o baile.
Sim, leitor, foi exatamente isso que o primogênito da dinastia Bolsonaro — o senador Flávio, aquele mesmo das rachadinhas, da mansão e do chocolate — declarou com todas as letras à Folha de S.Paulo. Para receber o apoio do pai em 2026, o candidato da direita terá que não só prometer um indulto para o velho capitão, mas também “dar um jeito” de fazê-lo valer, mesmo que o STF diga que é inconstitucional. Se preciso, no grito. Ou no tranco.
Flávio, o estrategista da selva, explicou didaticamente: “Bolsonaro apoia alguém, esse alguém se elege, dá um indulto ou aprova uma anistia rapidinho no Congresso, e pronto. Se o STF vetar, o candidato tem que garantir que isso seja cumprido. Não sei como. Mas tem que garantir.” Uma espécie de golpe com garantia estendida e assistência técnica embutida.
E para que ninguém diga que está sendo “autoritário”, Flávio já embala a proposta com laço de fita: anistia para todos. Inclusive para Alexandre de Moraes, a quem acusa de “atos de abuso de autoridade” e de ser uma “pessoa insana”. Quer dizer, além do perdão para os golpistas, ainda ofereceriam ao algoz uma taça de vinho e um lugar na mesa. Brasil, a terra do abraço coletivo.
O bolsonarismo, mais uma vez, tenta vender o golpe como “diagnóstico técnico”. Não se trata de vingança, mas de justiça. Não é ameaça, é análise de cenário. Não é autoritarismo, é proteção à democracia — desde que esta aceite viver sob o tacão da extrema direita, com indultos preventivos e tribunais decorativos.
Flávio ainda nos brinda com uma ideia brilhante: se o STF for contra o indulto, o novo presidente terá que fazer alguma coisa. Não sabe o quê, claro. Mas alguma coisa firme, forte, quem sabe fardada. Algo bem brasileiro, bem 1964 com filtro do Instagram.
E para fechar a ópera bufa, vem a cereja no chantilly: “Quem o Bolsonaro apontar o dedo, está eleito.” Talvez. Mas é bom lembrar que dedo demais apontando pode acabar virando um boomerangue — ou um dedo na cara da democracia.