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sexta-feira, junho 6, 2025

Ao lado de Macron, Lula diz que deseja fechar acordo entre Mercosul e UE em seis meses: ‘Abra seu coração’

Presidente do Brasil busca reduzir resistências das autoridades sas ao acordo de livre comércio

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Em declaração ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira, em Paris, querer fechar o acordo entre Mercosul e o União Européia nos próximos seis meses. O brasileiro assumirá a presidência do bloco sul-americano este mês e disse que pretende finalizar as negociações durante o semestre que ficará ocupará cargo.

— Eu assumirei a presidência do Mercosul no próximo dia 6 e, ao assumir a presidência, o mandato é de seis meses. Eu quero lhe comunicar que não deixarei a presidência do Mercosul sem concluir o acordo com a União Europeia. Portanto, meu caro, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo — disse Lula, em Paris.

Macron respondeu que o acordo traz risco para os agricultores ses

—A França defende o comércio livre e justo, então somos favoráveis à negociação desses acordos. Esse acordo no momento estratégico é bom para muitos setores, mas traz risco para agricultores de países europeus — afirmou.

Na sequência, acrescentou que as diferenças são sobre as normas do uso de agrotóxico, que tem impacto no meio ambiente.

— Os países do Mercosul não estão no mesmo nível de regulamentação (sobre agrotóxicos). Há uma discrepência. Devemos melhorar para que haja cláusulas de garantias. Precisamos respeitar a coerência das nossas ambições, de defesa do clima. Precisamos melhorar esse texto. Podemos fazer isso.

Em resposta, Lula disse que não há um governo no mundo com mais preocupação ambiental do que o seu. Também se propôs a conversar com os agricultores ses e acrescentou que a estrutura de combate ao desmatamento tinha sido desmonatada pelo governo do antecessor Jair Bolsonaro (PL).

Ao ser perguntado sobre a guerra na Faixa de Gaza, Lula defendeu novamente mudança no Conselho de Segurança da ONU, com a entrada de novos países.

— O que está acontecendo em Gaza não é uma guerra. O que está acontecendo em Gaza é um genocídio de um exército altamente preparado contra mulheres e crianças. É isso que está acontecendo. E contra isso que a humanidade tem que se indignar. É por isso que eu fico exigindo todo dia mudanças no Conselho da ONU. A ONU de hoje não pode ser a ONU de 1945. A ONU de hoje tem que ter continente africano participando, continente sul-americano, latino-americanos. Tem que ter países importantes, como a Alemanha, como o Japão. Por que a Índia está fora?

O presidente brasileiro defendeu que existência do estado de Israel e do estado Palestino, como definido nos anos 1960.

— É preciso que tenha a mesma ONU que teve autoridade para criar o Estado de Israel. Tem que ter autoridade para preservar a área demarcada em 1967. É o mínimo de bom senso que a gente pode exigir como humanistas que nós somos. Nesses dias, houve a morte de dois israelenses que trabalhavam na Embaixada de Israel nos Estados Unidos. Mas no mesmo dia, duas crianças carregando um prato de farinha foram mortas (em Gaza). E não houve a solidariedade que houve.

Os dois presidentes mostraram diferenças quando foram questionados por jornalistas sobre a guerra na Ucrânia. Macron foi mais enfático ao condenar a ação da Rússia e o presidente Vladimir Putin.

— No começo dessa guerra, o Brasil se posicionou contra a ocupação territorial que a Rússia fez no território ucraniano e, ao mesmo tempo, se posicionou contra a guerra. O Brasil, junto com a China, construíu um documento e uma proposta de 13 países emergentes para encontrar uma solução — disse Lula, que também criticou os ataques por drones promovidos pela Ucrânia em vários pontos da Rússia no último domingo.

Já Macron afirmou que os dois países não podem ser colocados em pé de igualdade.

— Sobre esse assunto, acho que a melhor orientação são as ideias simples. Há um agressor, a Rússia, e um agredido, a Ucrânia. Todos queremos a paz, mas os dois não podem ser tratados em pé de igualdade. A proposta dos Estados Unidos de um cessar-fogo foi aceita pelo presidente (da Ucrãnia) Zelensky em março e ela continua a ser recusada pelo presidente Putin. Ele iniciou a guerra, ele não quer um cessar-fogo. Em terceiro, o Brasil tem um papel muito importante a desempenhar a iniciativa com a China. É importante. O presidente acaba de fazer uma defesa do multilateralismo e isso é uma defesa da Carta das Nações Unidas.

Ao falar sobre a questão ambiental, Lula abordou a necessidade de as nações mais ricas disponibilizarem recursos para combater as mudanças climáticas. Disse que a França deve doar dinheiro.

— Sem mobilizar US$ 1,3 trilhão para enfrentamento da mudança do clima corremos o risco de criarmos um apartheid climático — alertou o brasileiro.

Lula chegou nessa quarta-feira à França, onde iniciou a primeira visita de Estado de um mandatário brasileiro desde 2012 com o objetivo de “fortalecer a relação” entre ambos os países e abordar as crises internacionais, como os conflitos na Ucrânia e em Gaza. Nas redes sociais, o petista anunciou ter ido a Paris a convite de seu homólogo francês, Emmanuel Macron.

Lula, que viajou junto de sua esposa, Janja, foi recebido na pista de pouso pelo ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot. A visita oficial começará na quinta-feira com uma cerimônia no Palácio dos Inválidos, antes de um almoço de trabalho e um banquete de Estado à noite no Palácio do Eliseu, sede da Presidência sa.

França e Brasil lançaram uma parceria estratégica em 2006, com o conservador Jacques Chirac e Lula no poder, que esfriou em 2016 e, sobretudo, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2023). O retorno do petista ao poder reaproximou a relação e, em março de 2024, Macron viajou para o Brasil, onde visitou a Amazônia e o estaleiro onde constrói submarinos ses Scorpène.

Agora, a visita do presidente brasileiro também foi apresentada como parte desta reaproximação bilateral. No X, Lula disse que os dois líderes discutirão “acordos de cooperação nas áreas de meio ambiente, tecnologia, defesa, energia e saúde”. Lula também deve participar do Fórum Econômico França-Brasil e da Conferência dos Oceanos da ONU, que começa na segunda-feira em Nice, entre outros eventos.

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Mercosul e aquecimento global

O acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE) e o aquecimento global estão entre os temas prioritários no encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o francês Emmanuel Macron nesta semana. Lula aproveitará a visita de Estado à França para tentar convencer Macron a aceitar o tratado comercial entre os dois blocos regionais, fechado em dezembro de 2024.

Auxiliares de Lula e integrantes da área diplomática afirmam que existe a expectativa de reduzir a resistência das autoridades sas ao acordo, por causa da taxação de produtos europeus pelos Estados Unidos. Eles ressaltam, contudo, que Macron está sob pressão dos agricultores locais, contrários à redução de subsídios e barreiras a produtos de outros países, o que pode dificultar o diálogo.

— O tema será tratado nos encontros entre os dois presidentes. Nesse novo contexto geopolítico, pretendemos explorar essa possível condição favorável — afirma o diretor do Departamento de Europa do Itamaraty, Flavio Goldman.

Outro tema do encontro bilateral será o aquecimento global. Como Donald Trump retirou os EUA do Acordo de Paris, há o entendimento de que será preciso fazer uma articulação com China e UE para que a COP30, em novembro, tenha algum sucesso, avalia o consultor internacional Nelson Franco Jobim:

— A melhor maneira de neutralizar o protecionismo francês seria aderir às normas da UE relativas a padrões fitossanitários e ambientais. Assim, eles não teriam desculpa.

Lula também deve se queixar da nova lei antidesmatamento da UE, que entra em vigor em dezembro. O texto proíbe a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas, legal ou ilegalmente, a partir de 31 de dezembro de 2020. O foco são café, soja, óleo de palma, madeira, couro, carne bovina, cacau e borracha.

Outros temas serão a defesa do multilateralismo e a regulação das redes sociais. Na agenda bilateral, são ainda prioridades o projeto conjunto para a construção de submarinos e investimentos ses no Brasil.

São esperadas s de 20 atos, entre acordos, memorandos e protocolos de intenções, em diversas áreas. São exemplos uma declaração sobre clima, tendo em vista a COP30, educação, saúde, segurança pública e ciência, tecnologia e inovação.

Sérgio Roxo/O GLOBO — Brasília

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