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sexta-feira, junho 6, 2025

Imagens mutantes

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Uma foto em preto e branco: a primeira imagem do mar e da praia, impressa no papel-jornal que ela usa para embrulhar uma barra de sabão para seu cliente. Por alguns segundos, ela aprecia aquele lugar desconhecido. Aliás, quantas coisas não são desconhecidas para ela? Ela descobre muito nesses jornais velhos, comprados por quilo para embalar mercadorias vendidas na mercearia de seu pai, chamada “casa de secos e molhados”.

Agora adulta — bem adulta —, a paisagem que vê está em cores. Ela recorda aquela foto vista há tanto tempo, que reaparece nos olhos da memória neste momento. No rosto, sente um vento soprando e brincando em seus cabelos. Por um instante, fecha os olhos, saboreando a sensação que a natureza provoca em seu corpo: paz, prazer, desejo de abraçar o mundo.

Um barco de pescador se aproxima, seguido por brancas gaivotas que voam sobre ele, emitindo grasnidos estridentes – “grraa, grraa, grraa” – ou seria “créu-créu”? Parece uma festa: elas aguardam o convite para o banquete. O céu exibe tons de azul entre as nuvens brancas.

“Sprats!” — um estalo à sua direita. Ela olha, preocupada. Um garoto pulou na água e nada em direção a um bote. Vai sair sozinho com ele? Não! Ele apenas segura a borda e nada até o cais. Será que vai saltar de novo? O sol aqueceu a água.

As cores do mar e do infinito pintam quadros em transformação permanente. Um espetáculo!

Mais adiante, uma placa comemora o centenário da greve das trabalhadoras que enlatavam as sardinhas pescadas pelos maridos. Elas reivindicavam salários mais altos pelo trabalho realizado para o patrão e melhores condições de vida.

O eio físico dá uma pausa; o visual continua no bar à beira-mar.

Mazé Torquato Chotil – Jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP antes de chegar em Paris em 1985. Agora vive entre Paris, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora da UEELP – União Européia de escritores de língua Portuguesa. Escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.

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