O governador Eduardo Riedel ainda é oficialmente tucano. Mas o ninho já não o abriga — ou melhor, abriga pouco. A julgar pelas movimentações mais recentes, Riedel está de malas prontas para o PP, via federação com o União Brasil. Seu padrinho político, Reinaldo Azambuja, já tem destino certo: o PL de Jair Bolsonaro. E leva junto o deputado Beto Pereira, ex-candidato a prefeito da Capital, que ensaia um bolsonarismo mais desinibido há tempos.
A dança partidária — ou seria um salto ornamental do muro? — revela muito mais do que a velha estratégia de sobrevivência eleitoral. Indica que o projeto de poder do tucanato sul-mato-grossense se rende à onda conservadora de 2018 e 2022, mesmo com os ventos de 2026 ainda imprevisíveis. O curioso é que esse movimento ocorre justamente quando o país começa a discutir, mais seriamente, os custos da radicalização política e o esvaziamento dos partidos tradicionais.
Entre a cruz e a Papuda
Riedel, bom gestor e discreto articulador, agora precisa decidir se seguirá o script da fidelidade a Bolsonaro — mesmo inelegível — ou se tentará preservar alguma autonomia no novo partido que se desenha com a fusão PSDB-Podemos. O dilema é brutal. Apoiar o bolsonarismo em 2026 pode garantir a reeleição em um estado majoritariamente conservador, mas também pode se transformar em tiro no pé, caso Lula consiga reverter a maré ou, pior, se Bolsonaro virar mártir — político ou penal — nas mãos do STF.
Tudo depende, no fundo, do destino jurídico de Bolsonaro — que hoje está nas mãos firmes do ministro Alexandre de Moraes. Se for preso, pode virar lenda. Se for anistiado, volta como messias. Se não for nem uma coisa nem outra, talvez lance Michelle, Eduardo, Flávio ou até o Tarcísio. O certo é que, mesmo inelegível, Bolsonaro continua sendo a âncora eleitoral de muita gente — inclusive de quem hoje governa estados como Mato Grosso do Sul.
Tucanos que viraram arapongas
Azambuja já não tem dúvidas. Com Reinaldo e Beto firmes no PL, o que resta ao governador é escolher entre seguir a boiada ou tentar construir um caminho próprio. Por ora, as tentativas de Riedel migrar para o PSD de Kassab fracassaram. A alternativa mais viável é o União Progressista (PP + União Brasil), onde a senadora Tereza Cristina reina como fiadora.
Mas apoiar Bolsonaro por fora, sem entrar no PL, é uma jogada arriscada. Sinaliza alinhamento ideológico sem fidelidade partidária — algo que os bolsonaristas, quando convém, não perdoam.
Além disso, a possível reeleição de Riedel num cenário nacional lulista traria cobranças, retaliações e dificuldades políticas. Mato Grosso do Sul, que vive de transferências da União e depende de obras federais, não pode se dar ao luxo de virar pária em Brasília por opção ideológica de seus líderes.
O que sobra do PSDB?
Geraldo Resende e Dagoberto Nogueira já indicaram que não seguirão o caminho do PL. São políticos mais identificados com o campo moderado e resistiram ao canto da sereia bolsonarista. Resende, inclusive, foi linchado virtualmente por combater o negacionismo na pandemia. É um nome que pode voltar à cena em 2026 como contraponto a essa aliança entre tucanos envergonhados e bolsonaristas convictos.
E o PSDB, o que sobra? Sobra uma sigla em liquidação, esperando a fusão com o Podemos para virar uma federação de centro-direita sem identidade. Quem ficar, ficará mais por falta de opção do que por convicção.
O muro ruiu. E agora?
Eduardo Riedel, até aqui, tem se mostrado político equilibrado, técnico e institucional. Mas 2026 exigirá mais do que equilíbrio: exigirá coragem. Coragem para não se apequenar diante das pressões de quem grita mais alto. Coragem para não ser engolido pela máquina bolsonarista, que exige obediência cega e fidelidade militante.
O muro tucano já ruiu. O governador terá de escolher entre virar soldado de uma causa que talvez não seja sua ou se afirmar como líder de um novo tempo, mesmo correndo riscos. O tempo das pranchetas e planilhas ou. Agora é o tempo da política — com tudo o que ela tem de inevitável, imprevisível e, sobretudo, de irreversível.