Já nos estertores de sua agem terrena, numa UTI do Hospital Universitário, ao lado de sua esposa Cuque, depois de uma oração que fiz na tentativa de mitigar seu sofrimento, percebi que meu amigo e grande colega jornalista Cícero Faria parecia querer me fazer algum pedido. Balbuciava apenas, e infelizmente não consegui fazer a leitura labial. Só agora, um ano e quatro meses depois de sua partida, minha musa inspiradora – a IAIA (Inteligência Artificial Insubordinada e Afetiva) – me fez entender o que pode ter sido o último desejo do criador do sapo cururu. Um pedido silencioso, mas eloquente, dirigido ao velho companheiro de lida jornalística, por tão perene convivência ao longo de mais de 50 anos; fora das redações, nos bares da vida (só no Batatinha e depois no Quatrilho foram cerca de 30 anos), nos quiosques à beira do lago do Indaiá ou nas barrancas do Rio Formoso, em Bonito, onde se mostrava um craque do espeto com uma picanha ao ponto que descia redondo com uma Skol em latinha — nos tempos em que as Heinekens estavam proibidas de cruzar a fronteira de Pedro Juan Caballero.
Foi nesta manhã de sexta-feira – e tinha que ser na padaria do fuxico – quando um amigo, também daqueles tempos, chegou dizendo que havia se lembrado de Cícero Faria na noite anterior, bisbilhotando as redes sociais. O achado: uma foto na Expoagro, de Reinaldo Azambuja e Murilo Zauith, governador e vice que antecederam Riedel e Barbosinha. Não precisou me falar nada, mas a transmissão de pensamentos foi instantânea, apressando-me a sair do local com o pressentimento de que a IAIA me aguardava com alguma sugestão de pauta diferente.
Só ele mesmo, o velho Cícero, para ajudar-me a encontrar um meio de ar mensagens subliminares, como a da foto-legenda que inaugura um novo quadro hoje no ContrapontoMS. Mais que factual — por se tratar de evento durante a 59ª Expoagro —, é também conceitual e histórico, já que os algoritmos remetem aos tempos uragânicos, quando o termo “ajuda eu” foi popularizado pelo prefeito Ari Artuzi, a maior vítima daquele escândalo que até hoje tem muito a ser explicado. Seria o caso de uma mea-culpa misteriosa, com Zauith escorregando no verbo como Artuzi, para pedir perdão também a Azambuja?
Há dias deixei de fazer a coluna “Bastidores”, onde o fuxico político corria solto. Até porque são tantos os “Bastidores” em tantos jornais Brasil afora que nem dá pra saber quem copiou quem. Além do mais, esse tipo de trabalho vicia jornalista, que acaba ficando preguiçoso. Como sou adepto dos textões, preferi focar neles, onde deito e rolo, principalmente agora, com a parceria de minha queridíssima e perfumadíssima musa digital.
Daí o “novo” produto que apresento hoje aos meus seguidores mundo afora: uma coluna só de foto-legendas, como fazia Cícero com seu eloquente sapo cururu. Mais de charges, com certeza, já que com a IAIA não preciso mais ficar implorando por artes a “criadores” geniosos que trabalham na hora em que bem entendem, o que só dificulta o trabalho de quem acorda cedo e dorme tarde, sempre inspirado. Faço o briefing e dirijo minhas próprias criações — como o leitor já deve ter notado nestes últimos dias de tantas polêmicas sobre o uso da Artificial Intelligence, invertido: a já popular, poderosa, inimaginável, eficiente e até assustadora Inteligência Artificial.
Moral da história, nessa estreia, sobrou para o ex-vice-governador Murilo Zauith, para meu amigo Barbosinha e, como tudo aqui é muito atual, para o presidente do Sindicato Rural, Gino Ferreira — a bola da vez do agronegócio para a política. Além de um freguês antigo do espaço, o também amigo e colega de lida na adolescência, hoje deputado federal Geraldo Resende.
Por ser a que inaugura o espaço que sucede o “Bastidores”, a foto-legenda de Azambuja e Zauith está ilustrando este texto. Mas no dia a dia, como nas seguintes — de Riedel e Barbosinha, também a de Gino, Riedel, Barbosinha e Geraldo Resende — vão ser mais frequentes, sem texto, no máximo com um título. Até porque são imagens que valem por mil palavras e, como dizia dona Elvia, minha mãe — lavadeira, sábia e doce —, “pra quem sabe ler, um pingo é letra”.
Que meu amigo Cícero Faria me perdoe pelo atraso, mas espero compensar o tempo perdido contando com sua inspiração lá de cima — ele que já deve ter se misturado a outros grandes mentores como Júlio Marques de Almeida, Theodorico Luiz Viegas, Pedro Dobes, Guilherme Filho, Harrison de Figueiredo, Luiz Carlos Mattos e tantos outros.