O Papa Leão XIV fez um apelo pela paz mundial e o fim de conflitos em diversas regiões do mundo neste domingo, em uma mensagem lida ao fim da oração da Regina Coeli (“Rainha da Paz”, em português), sua primeira aparição pública para um momento litúrgico aberto ao público desde que foi anunciado como líder da Igreja Católica na quinta-feira. O Pontífice citou nominalmente as guerras na Ucrânia, em Gaza e os conflitos entre Índia e Paquistão na região da Caxemira, pedindo uma resolução pacífica para todos.
Da sacada da Basílica de São Pedro, Leão XIV relembrou os horrores da Segunda Guerra Mundial antes de se referir aos conflitos atuais. Ele disse seguir o caminho de seu antecessor, o Papa Francisco, para se dirigir “aos grande do mundo” em um apelo para de “nunca mais à guerra”. Foi então que mencionou nominalmente alguns cenários específicos.
— Trago no meu coração o sofrimento do amado povo ucraniano. Que se faça tudo aquilo que for possível para alcançar o mais rápido possível uma paz autêntica, justa e duradoura. Que sejam libertados todos os prisioneiros e que as crianças possam retornar às próprias famílias — disse o Pontífice.
A mensagem sobre o conflito no Leste Europeu ocorre um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, propor uma negociação direta entre Rússia e Ucrânia no próximo dia 15, na Turquia, a fim de discutir um possível cessar-fogo. Putin afirmou que não há “condição prévia” para a negociação. Em uma manifestação neste domingo, o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky afirmou que Moscou “começa a considerar a paz”, e disse que a proposta de Putin é um “sinal positivo”.
Embora seja um pedido geral para o fim da guerra, que se arrasta por mais de três anos, a menção do Papa específica ao retorno de “crianças a suas famílias” parece fazer referência a um dos pontos mais polêmicos da guerra: a deportação de crianças ucranianas para a Rússia. Os dois países chegaram a entendimentos durante o conflito para que algumas delas fossem reunidas com suas famílias ao longo da guerra, mas a alegação de deportação ilegal de crianças foi um dos motivos que levou o Tribunal Penal Internacional (TPI) a emitir um mandado de prisão contra Putin.
O Papa continuou citando o conflito na Faixa de Gaza, entre Israel e Hamas, fazendo um apelo duplo: para que os reféns ainda mantidos em cativeiro sejam libertados, e para que a população do enclave palestino volte a receber ajuda humanitária. A estimativa israelense é de que 59 reféns ainda estejam em poder de grupos armados palestinos (embora metade acredite-se estar sem vida), enquanto organizações internacionais denunciam uma crise humanitária grave em Gaza pelo bloqueio imposto por Israel na fronteira, que impede o auxílio a civis.
Primeira benção de Leão XIV leva mais fiéis ao Vaticano do que nos dias de conclave

Leão XIV conduziu a oração do Regina Caeli
— Sinto a dor daquilo que acontece na Faixa de Gaza. Que cesse imediatamente o fogo. Que se preste socorro humanitário a toda a população civil, e que sejam os reféns liberados — disse Leão XIV.
Por fim, o Pontífice se disse satisfeito com o anúncio de acordo entre Índia e Paquistão para um cessar-fogo após ataques trocados em decorrência da escalada de violência na região da Caxemira. Apesar do acordo, acusações de descumprimento partiram tanto de Islamabad quanto de Nova Délhi.
— Acolhi com satisfação o anúncio do acordo entre Índia e Paquistão. Espero que através das novas negociações, se possa alcançar rapidamente um acordo duradouro — disse o Papa, antes de concluir seus apelos pela paz. — Também existem tantos conflitos no mundo. Confio à Rainha da Paz este forte apelo para que seja ela que apresente ao senhor Jesus para que alcancemos o milagre da paz.
Praça de São Pedro lotada
O Vaticano ficou mais lotado neste domingo que nos dias do conclave que elegeu Leão XIV. Cerca de 200 mil pessoas eram esperadas na Praça de São Pedro para ver a primeira benção dominical do novo pontífice.
Um forte esquema de segurança interditou as principais vias que dão o ao Vaticano. Pais levantavam crianças nos ombros para que pudessem ver o Papa. Houve muita emoção na praça quando ele saudou o Dia das Mães, que hoje é celebrado na Itália, no Brasil e em outros países. Ao lembrar a data, Leão XIV abençoou as mães vivas e as que “já estão no céu”.

Antes de se dirigir à multidão para entoar a oração da Regina Coeli ao meio-dia (7h em Brasília) — tradicionalmente entoada durante o Tempo Pascal (período de 50 dias contados a partir do Domingo de Páscoa) — Leão XIV visitou as Grutas do Vaticano, onde rezou missa no altar perto do túmulo de São Pedro.
Ele concelebrou com o prior geral da Ordem de Santo Agostinho, padre Alejandro Moral Anton. Ao fim da missa, o Papa rezou junto aos túmulos dos antecessores.
No sábado ele já havia visitado a sepultura do Papa Francisco, que pediu para ser enterrado fora do Vaticano, na Basílica Santa Maria Maior. Em um breve pronunciamento, também no sábado, o Papa explicou a escolha do nome oficial, que substituiu seu nome de batismo.
O Pontífice explicou que escolheu seu nome para mostrar compromisso com a doutrina social da Igreja. Ele se inspirou em Leão XIII, pontífice que defendeu os trabalhadores na era da Revolução Industrial, e argumentou que o avanço da tecnologia e da inteligência artificial impõe desafios semelhantes aos da Revolução Industrial, mais de um século atrás.
— Na verdade, são várias as razões — disse o Papa sobre a escolha. — Mas a principal é porque o Papa Leão XIII, com a histórica encíclica Rerum novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande Revolução Industrial. E, hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza de sua doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho.
No encontro com o colégio de cardeais, Leão XIV voltou a elogiar o Papa Francisco. Disse que o antecessor se notabilizou pelo “estilo de total dedicação ao serviço e sobriedade essencial na vida” e afirmou que continuará a conduzir a Igreja numa direção mais missionária, com maior cooperação entre os líderes eclesiásticos e proximidade com os marginalizados.
— O Papa, de São Pedro até mim, seu indigno sucessor, é um humilde servo de Deus e de seus irmãos, e nada mais do que isso. Os exemplos de muitos dos meus antecessores, como o Papa Francisco, demonstraram isso claramente. Acolhamos esta preciosa herança e retomemos o caminho, animados pela mesma esperança que vem da fé — pediu.